O Jornal de Angola, Pravda do regime do MPLA, voltou hoje a pôr os seus mercenários a criticar Portugal. É recorrente. O chefe do posto manda, os sipaios obedecem. Num editorial anónimo, o pasquim refere que “fazer carreira política” em Portugal envolve “dizer mal” do Presidente, José Eduardo dos Santos, dos políticos e dos empresários angolanos.
Por Orlando Castro
C om o título “Atitude desleal”, o Avante de Luanda – que, como o seu pai português, ainda não reparou que o Muro de Berlim caiu há 25 anos – recorda que os empresários nacionais “investiram milhares de milhões de euros em Portugal nos últimos seis anos”.
Recorda bem, reconheça-se. E com um raro sentido de oportunidade, sobretudo porque as lavandarias portuguesas são do melhor que há. Além disso, investir num país esquelético, subserviente e bajulador (Portugal) é fácil, barato e dá milhões.
“Primeiro, por causa dos afectos, depois pelos negócios. E o investimento em Angola tem uma vertente: ajudar um país irmão a debelar a crise e superar as dificuldades económicas e financeiras em que está mergulhado. Noutro sentido, milhares de portugueses procuram também trabalho em Angola. Todos são bem-vindos, embora alguns se comportem como ocupantes”, lê-se no editorial ressabiado, típico de um qualquer socialista sanzaleiro.
Recorda o Pravda que os angolanos “investiram em todos os sectores da economia portuguesa”, que os empresários portugueses “fizeram o mesmo em Angola” e que “ninguém se queixou do ambiente de negócios, das facilidades institucionais, das parcerias constituídas”.
Claro que sim. A diferença, provavelmente irrelevante, está no facto de um ser – mau grado algumas debilidades – um país democrático e um Estado de Direito, e o outro ser uma ditadura encapotada que tem, desde 1979, um Presidente da República que nunca foi nominalmente eleito.
“Se alguma coisa corre mal, os problemas resolvem-se nas sedes próprias e nunca na comunicação social angolana”, observa o escriba. Contudo, referindo-se directamente a políticos – como João Soares e Francisco Louçã -, ou jornalistas – ao casal José Eduardo Moniz (apelidado de “consultor de telenovelas”) e Manuela Moura Guedes -, o Jornal de Angola aborda o peso das críticas portuguesas.
“A situação é de tal forma anómala que até fica a ideia de que quem quiser fazer carreira política em Portugal tem que dizer mal do Presidente de Angola, dos políticos angolanos que fazem parte do partido (MPLA) que venceu as eleições com maioria qualificada, dos nossos empresários, mesmo dos que investem elevadas somas para ajudar Portugal a sair da crise”, acrescenta o sipaio de serviço, certamente um dos muitos portugueses frustrados que pululam na gamela do erário público angolano.
É verdade que o MPLA é – segundo o pasquim – Angola, e que Angola é o MPLA. É igualmente verdade que o MPLA conseguiu, em termos eleitorais, dar uma lição à própria Coreia do Norte, pondo os mortos a votar em si e, até, a registar em alguns círculos mais votos do que eleitores.
Para o Jornal de Angola, em Portugal “chegam ao cúmulo de levantar suspeitas sobre a origem do dinheiro dos angolanos”, mas “ninguém quer saber da origem do dinheiro” de investidores de outras nacionalidades. “É uma pura e selectiva perseguição aos interesses angolanos”, lê-se, assumindo o jornal que “se há dúvidas quanto à origem das suas fortunas dos angolanos, as autoridades competentes que investiguem” e depois “tirem as suas conclusões”.
Como habitualmente, o Pravda confunde a bissapa com a mata. Primeiro ninguém põem em dúvida a origem do dinheiro dos angolanos. O que está em dúvida é a origem do dinheiro dos donos dos angolanos. Em segundo, também ninguém põe em dúvida a origem do dinheiro dos empresários. Em dúvida está a origem do dinheiros dos empresários que são exclusivamente do MPLA, que vivem na gamela do clã presidencial, que têm participação nos roubos ao dinheiro que deveria ser de todos.
“Mas é inadmissível que todo o cão e gato em Portugal ponham em causa a origem do dinheiro dos empresários angolanos que investem naquele país. É inadmissível que levantem suspeitas sobre investidores angolanos no caso dos vistos ‘gold’ e, uma vez conhecida a lista dos que investiram em troca desse visto, não está lá nenhum angolano”, afirma a correia de transmissão das teses kangambianas do MPLA.
O Pravda/Avante tem alguma razão. Os donos de Angola não precisam de vistos Gold para lavar as toneladas de lombongo que sacam, à grande, ao Povo angolano. Aliás, Portugal é cada vez mais uma sucursal do regime de José Eduardo dos Santos, um paraíso ao dispor de quem manda, o presidente angolano.
O pasquim assume por isso que “os portugueses têm que decidir de uma vez por todas se querem ou não os angolanos como parceiros” e que se Portugal “quer desenvolver a cooperação com Angola, não pode depois haver perseguição a cidadãos angolanos que dão o seu melhor para que os acordos de cooperação em vigor tenham sucesso”.
Bem visto. Chantagem em cima deles. Bastava dizer: não se armem em sérios porque, se o chateiam muito, o “querido líder”, o “escolhido de Deus”, fecha a torneira.
“Atirar com nomes de angolanos para as páginas dos jornais ou dos meios audiovisuais como estando envolvidos em actos ilícitos é uma deslealdade que começa a cansar”, avisa o órgão oficial do regime, recordando que a empresária Isabel dos Santos, ao entrar na corrida à compra da Portugal Telecom, “foi logo nomeada como a ‘filha do Presidente de Angola'”.
Que chatice. Estará o pasquim a querer dizer ao mundo que Isabel dos Santos não é filha do Presidente de Angola? Que os mercenários de elite escolhidos para redigir estes editoriais, por regra José Ribeiro e Artur Queiroz, tenham renegado as suas origens e – por isso – os seus pais, é uma coisa. Mas Isabel nunca faria isso em relação ao seu querido pai.
“Uma atitude deselegante e desrespeitosa que não pode ser admitida. Os outros interessados não têm pai nem mãe. São apenas investidores”, observa, ao mesmo tempo que elogia os empresários portugueses Belmiro de Azevedo, Américo Amorim Alexandre dos Santos. Pudera!